Capítulo
1: Origem e Começo.
Feio. Nenhuma palavra
sintetiza mais o que é esse ser. Do alto dos seus seis metros de altura, da
pele cinza-mofo e de suas duas cabeças dissonantes. Sim duas cabeças, e digo
mais, são cabeças dotadas de personalidades distintas. Agora só não me pergunte
como o corpo reage a dois comandos diferentes e simultâneos, sem rasgar-se em
dois. Não sou um expert em neuro-anatomia de gigantes bicéfalos.
Nascido em uma tribo de
gigantes das montanhas, nunca recebeu um nome próprio, sempre fora tratado como
“Duas Cabeças”, “Quatro Olhos” e outros adjetivos menos cavalheirescos. Mas
apesar de sua singular aparência, sempre fora tratado com um misto de
desconfiança e respeito, afinal era considerado mais inteligente e sagaz do que
qualquer gigante daquela região. Afinal, na sabedoria dos gigantes encontramos
o seguinte dizer: “duas cabeças sempre pensam
melhor do que uma.”.
Porém, nem sempre ser
diferente ou considerado intelectualmente superior é uma vantagem. Durante seu
rito de passagem para a idade adulta, ele deveria desempenhar alguma tarefa que
trouxesse melhoria para sua tribo. Enquanto os outros jovens mostravam o quanto
eram bons com caça, pesca, luta, construçãao, dentre outros ofícios masculinos
(ao ver dos gigantes, lembre-se). Ele apresentou um longo discurso sobre como
dividir as tarefas de maneira mais eficaz, levando em conta a estatura, força
física e idde. A ideia não era ruim, mas gigantes são orgulhosos e teimosos,
além do mais acreditam que quanto mais velho se é mais forte se fica. E que
desempenhar tarefas ditas difíceis ou impossíveis apenas aumenta sua glória. A
morte acidental, nesses casos, não passa de um detalhe desimportante.
Resultado, nosso amigo
grandão e de duas cabeças foi expulso de casa, acusado de querer justificar sua
falta de força e coragem em palavras de falsa sabedoria. Mas nem assim suas
personalidades se abateram, afinal, uma das cabeças, a quem a outra chamava de “Outro”
era extremamente curiosa e observadora. A outra, que se intitulava “Eu”, era de
uma resiliência pétrea e orgulho profundo, logo decidiu encontrar seu lugar
nesse mundo.
Viajou durante dias, bebeu
em fontes e riachos, comeu frutas silvestres e pescou alguns peixes, afinal Eu
gostava mais de peixes, enquanto Outro preferia frutos silvestres.
E assim começava uma viagem de conhecimento e compreensão, descoberta e autodescoberta, ao longo dos reinos e das raças.