quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cronicas da Cabeça Adicional, Reflexões Filosóficas de um Gigante Bicéfalo.


Capítulo 1: Origem e Começo.
Feio. Nenhuma palavra sintetiza mais o que é esse ser. Do alto dos seus seis metros de altura, da pele cinza-mofo e de suas duas cabeças dissonantes. Sim duas cabeças, e digo mais, são cabeças dotadas de personalidades distintas. Agora só não me pergunte como o corpo reage a dois comandos diferentes e simultâneos, sem rasgar-se em dois. Não sou um expert em neuro-anatomia de gigantes bicéfalos.
Nascido em uma tribo de gigantes das montanhas, nunca recebeu um nome próprio, sempre fora tratado como “Duas Cabeças”, “Quatro Olhos” e outros adjetivos menos cavalheirescos. Mas apesar de sua singular aparência, sempre fora tratado com um misto de desconfiança e respeito, afinal era considerado mais inteligente e sagaz do que qualquer gigante daquela região. Afinal, na sabedoria dos gigantes encontramos o seguinte dizer: “duas cabeças sempre pensam melhor do que uma.”.
Porém, nem sempre ser diferente ou considerado intelectualmente superior é uma vantagem. Durante seu rito de passagem para a idade adulta, ele deveria desempenhar alguma tarefa que trouxesse melhoria para sua tribo. Enquanto os outros jovens mostravam o quanto eram bons com caça, pesca, luta, construçãao, dentre outros ofícios masculinos (ao ver dos gigantes, lembre-se). Ele apresentou um longo discurso sobre como dividir as tarefas de maneira mais eficaz, levando em conta a estatura, força física e idde. A ideia não era ruim, mas gigantes são orgulhosos e teimosos, além do mais acreditam que quanto mais velho se é mais forte se fica. E que desempenhar tarefas ditas difíceis ou impossíveis apenas aumenta sua glória. A morte acidental, nesses casos, não passa de um detalhe desimportante.
Resultado, nosso amigo grandão e de duas cabeças foi expulso de casa, acusado de querer justificar sua falta de força e coragem em palavras de falsa sabedoria. Mas nem assim suas personalidades se abateram, afinal, uma das cabeças, a quem a outra chamava de “Outro” era extremamente curiosa e observadora. A outra, que se intitulava “Eu”, era de uma resiliência pétrea e orgulho profundo, logo decidiu encontrar seu lugar nesse mundo.
Viajou durante dias, bebeu em fontes e riachos, comeu frutas silvestres e pescou alguns peixes, afinal Eu gostava mais de peixes, enquanto Outro preferia frutos silvestres.
E assim começava uma viagem de conhecimento e compreensão, descoberta e autodescoberta, ao longo dos reinos e das raças.